Archive for the 'EUA' Category

11
Abr
09

A vitória da política

Num país que antes de ser racista é rácico, Barack Obama é multirracial. Quem melhor do que ele para perceber as regras do jogo. A fobia concertada contra o Islão e a América dividida são terreno fértil para ele. Obama é um cidadão do Mundo. É um homem que sabe pensar e inferir sobre as dialécticas de hoje. Compreendeu que o único caminho para a paz é muitas vezes dar o braço a torcer em questões irrelevantes. Compreendeu os meandros do fenómeno mediático e jogou com ele. Tornou-se para muitos, a bomba de oxigénio de um mundo asfixiado por oito anos de desastrosas políticas bélicas, ambientais e cívicas. (Recomendo por isso a leitura do seu segundo livro, de uma sagacidade e inconformismo tais que lhe grangearam um número bastante simpático de detractores dentro e fora do partido.)
Não farei grande alarido panfletário à volta do selo de garantia Bush. Dispenso até. A turba já colhe a fruta podre dos senhores Wolfowitz, Greenspan, e Cheney para os mitigar de forma masoquista em mais um testemunho incendiário. Estas linhas servem propósitos mais nobres e optimistas. E falam de um país que converteu a sua herança segregacional e estrutura fragmentária a um léxico social de integração. Um país que eleva a competitividade, o trabalho e a meritocracia à razão da sua existência. Um país que apesar das disparidades de vária ordem soube valer a sua representatividade. Soube acompanhar o fluxo crítico a um mundo desregulado, optando por uma verdadeira alternativa. Obama conseguiu corporizar essa alternativa.
Os sobas deste confuso mundo – Chávez e Ahmadinejād – desvalorizarão a mudança pois não lhes interessa nem uma América forte, nem um novo paradigma de relações internacionais. Os nativos que respondem a uma miríade de credos, não o hão-de imaginar como um anjo alado do contra-apocalipse Bush, mas sim como uma dádiva terrena da gloriosa democracia Americana. Para a Velha Europa, sempre disposta à canonização do pacifista anunciado, historicamente socialista e liberal de costumes que se debruçe na cooperação multilateralista e nos seus próprios problemas. As questiúnculas do salvador bíblico e do restabelecimento da normalidade (seja lá o que isso for) não apagam essa “audácia da esperança”, mas seria um lamentável tiro no pé concentrar as expectativas e desafios de um mundo livre, num só homem. A Europa precisa de líderes na real acepção da palavra. Pensadores e intelectuais que não adormeçam sobre o topete ocidentalista da superioridade cultural. E isto é muito mais importante do que parece.
Quanto a mim, irremediável céptico e ateu militante, a eleição do 44º presidente dos EUA representa muito mais do que isso. Representa a superação individual “ad hominem”, uma liberdade e desafio radical à condição conservadora do homem, dito pós-moderno. Representa a vitória da política sobre o circo. Mais, pornograficamente política. Não espero, nem sequer idealizo, respostas que ele não possa dar. Sou da opinião que a verdadeira mudança vai ser feita indoors. Não consigo alinhar além disso, na ladaínha peregrina do islâmico como “bom inocente” nem da negação do terrorismo como flagelo do novo século. Acho isso de uma hipocrisia total. Uma cultura que trata com tal misoginia as suas mulheres e que apela a uma religião violenta, não merece tal colagem. A abordagem diplomática terá de surtir efeito. Por outro lado, será irónico considerar que o mesmo terror e medo causado pela, então, administração republicana tenham sido o dínamo da campanha democrata e da afirmação do mestiço no seu «Change, We can». Só os mais distraídos e mal-intencionados poderão confundir as consequências e idiossincrasias que daí advieram, fazendo-as passar por oportunismo político. Não foi Obama o único implusionador de tudo isto. Foram os Estados Unidos que o expressaram nas urnas. Por isso e por muito mais, arrisco dizer que Obama foi o que de melhor aconteceu na política dos últimos 50, turbulentos e icnolastas, anos. Que venham daí esses quatro anos.

07
Abr
09

Terramoto com o epicentro no Passos Manuel

Verdadeiramente extasiante. A cadência repetitiva de várias linhas sonoras que se entrenhavam no espírito. Uma persistência disciplinada em arrastar e maximizar a canção. Aquela canção demorada, improvisada, visceral. A viagem por Seattle, a passagem pelo Midwest, até à aterragem final no Porto. A evolução criativa de quatro personagens apaixonantes que saboreiam cada nota que tocam. A devoção total dos seus fieis discípulos que ululavam por mais. Um ambiente etéreo, de uma expressividade musical em bruto. Ficaram-se pela meia noite e aquele silêncio tornou-se ensurdecedor. A viagem de regresso – ou a extensão da viagem – levitou uma atmosfera hipnótica, consumida pelo drone.

Os Earth vieram à Invicta no passado dia 31 de Março… e eu estive lá! Fiquem com a “nova” deles.

23
Maio
08

Paranoid Park – review.

Título original: Paranoid Park
De: Gus Van Sant
Com: Gabe Nevins, Daniel Liu, Taylor Momsen
Género: Drama
Classificacao: M/12
EUA/FRA, 2007, Cores, 85 min.

 

Que fique bem claro que não o achei fantástico ou impressionante. Mas o risco, a presença e a dimensão que Gus van Sant atinge, deixa-o como um dos melhores de 2007. Um filme que artisticamente fala por si.

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18
Maio
08

Perspectiva histórica da educação bilingue, nos EUA.

A realidade a que muitos chamam de nova, da importância na aprendizagem de línguas estrangeiras, hoje em dia, deu um grande passo virando quase senso comum.
É da maior relevância o papel da língua na comunicação social, num tempo dominado pela globalização, pela notícia e pelo conceito de cultura reciclável. O mundo funciona mais rápido, ou assim o parece.
Indissociável do tema da linguagem e sua convivência cultural, estão sem dúvida os Estados Unidos da América que pela sua diversidade étnica e humana, reflectem o seu pluralismo e riqueza mas que por outro lado gera uma crise de identidade nacional e especificamente linguística que atravessa os seus 50 estados e atormentando o seu futuro.

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10
Maio
08

Multiculturalismo Identitário e os Dilemas Étnicos nos EUA.

Ao confrontarmos os estudos étnicos e plurilinguísticos nos Estados unidos, neste virar de milénio e com as afirmações grupais de minorias cada vez mais audíveis no que à igualdade e reconhecimento epistémico concerne, denotamos um espaço contraditório de múltiplas posições opostas entre dois discursos dominantes e que perseguem os destinos sociais da América, desde Lincoln, passando por Luther King, Kennedy ou mesmo os Hippies, até, se quisermos, à desconfiança actual para com as populações Muçulmanas e do norte de África, facto generalizado pelo terrorismo religioso.

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16
Mar
08

“Caminharei pelo vale da morte e terei sucesso, porque sei que Deus está comigo!!!”

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 Legado Bush:

  1. Uma guerra; milhares de mortes; uma mentira.
  2. Um discurso e uma actividade de política externa imperialista e troglodita; políticas de conveniência em zonas estratégicas do globo.
  3. Guantánamo, tortura e o pânico ao Islamismo. 
  4. Uma economia americana cada vez mais frágil, com o dólar a cair e a perder valor face ao euro.
  5. Um passivo recorde na já longa democracia dos states.
  6. Uma economia global a sofrer na pele as consequência evitáveis da especulação imboliária e do subprime.
  7. Uma política de imigração de exclusão e nacionalista, na linha republicana.
  8. O afastamento escolar de línguas minoritárias dentro do espaço americano (a portuguesa como exemplo); a consequente fragilização da cultura tradicional bilingue americana.
  9. A defesa da pena de morte no dito país mais desenvolvido e rico do Mundo
  10. Uma figura ridícula e pobre intelectualmente imbuída num espírito fanático religioso que faz as maravilhas do Daily Show e do Colbert Report.

Acrescentem mais alguma coisa, se eventualmente me esqueci de incluir mais um “feito” do nosso amigo “cowboy maluco”. Em construcção. 

08
Mar
08

Os EUA e o Mundo.

Ao permitir-me escrever estas linhas dou azo à minha reflexão sobre o Estado do Ocidente nos dois lados do Atlântico. Uma América a tentar reerguer-se do colapso de quase oito anos de uma incompreensível administração Bush e uma inconstante e diletante zona Europeia que cada vez mais se evidencia como lembrete daquilo que foi numa figura de ancião avulso à mudança e expectante quanto ao aparecimento das novas “potências” do Mundo Global. Mas não é sobre a situação das instituições e organismos governamentais que vos falo neste texto. O meu raciocínio é um tanto mais profundo.     

Dando como adquirido que as sociedades modernas estão em mudança constante, aprender a mudar a nossa forma de pensar ajustando-as às necessidades e idiossincrasias actuais, nem sempre é tarefa fácil. Pelo contrário, é mais fácil resistir à mudança do que tentar aceitá-la ou pelo menos permitir-se a experimentá-la. Ir na onda da crítica fácil e da análise superficial tem sido a prática habitual de uma sociedade de informação viciada e igualmente superficial

Distantes que estão todas as movimentações históricas, migratórias, culturais e reivindicativas ainda que presente em muitas consciências, pelas boas e as más razões, há que assentar um modelo social de integração e convergência nas múltiplas plataformas e conceitos que se conjecturam beneméritas às minorias, correspondidas por raça, sexo, credo e cor.

No que toca à compreensão dos EUA e dados os episódios mais recentes da história do País se me perguntarem se este conceito é de fácil aplicação, replicarei de imediato que não, atendendo às próprias origens e progressos de tão vasto País. País esse, que não é mais do que uma amostra difusa e extraordinariamente dinâmica daquilo que nós, Europeus, Africanos e Asiáticos, somos.

Acima de tudo e respeitando os legítimos mas falíveis conceitos de salad bowl ou melting pot, os EUA representam o sucesso e a grandeza do “novo mundo”. Um Éden de esperança em que todas as diferenças se esbatem num modelo plural que ninguém se atreve a qualificar ou classificar. Um Modelo que os leva a todos a defender a sua bandeira e o seu hino. Em síntese, um mosaico cultural numa sala vertiginosa de janelas abertas ao Mundo que materializa a ideologia nacionalista de um mantra europeísta.

É curioso no entanto, repararmos nas mais ressaltivas orientações sociais e nacionais, de cada um dos lados do Atlântico, pois desde sempre compreendi a América como um grupo de Estados Unidos a concorrer frente a Estados Isolados. Estados compostos por gente diferente de tradições singulares, unidos por um Sistema Político aglutinador, mas que ao fim e ao cabo, não passa disso. As características diferentes e distantes inter pares, permanecem sem se tornarem residuais.

Do outro lado da barricada, os meus botões me dizem, que a grande ambiguidade Europeísta do novo século reside no contra-senso em se tornarem a profecia dos Estados Unidos da Europa por fragmentos nacionalistas cujas sucessivas divisões étnicas, religiosas ou mesmo politiqueiras, estruturaram o “Velho Continente” num demorado e impaciente “puzzle” geográfico. O Kosovo é só mais um exemplo do que menciono, parecendo-nos unidos perante o Mundo numa efervescência separatista de dimensão empírica criteriosa.

Por terras de “Tio Sam” isto não se verifica por uma razão muito simples: sempre conviveram com esta “filosofia de alteridade” desde o seu germinar até à candidatura presidencial de um Afro-americano. E encaram-na como uma realidade permanente e irreversível.

Ao condensar o que de melhor e pior nós temos, os norte-americanos esboçam, da mesma forma, as atribulações e implosões sociais que vão ocorrendo nos lugares-comuns de cada canto do planeta. Como se fossem espelhos disformes de todos os outros.

A possível eleição democrata apelará a isso e ditará os destinos da América no que toca ao terrorismo a à radicalização do gosto. E vem pôr término à proselitista e demagógica teoria de que “quem não gosta de Bush, não gosta da América”. Como se não houvessem razões de propriedade moral e intelectual a apontar a tão triste e evangélica figura. 

Para que a normalidade se reinstale, basta que se apele ao Humanismo e á Tolerância. Que é Europeia de certidão, e Americana de testemunho.




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